quinta-feira, 10 de setembro de 2009
Um Dia Você Aprende...
terça-feira, 8 de setembro de 2009
"É tão difícil falar e dizer coisas que não podem ser ditas. É tão silencioso. Como traduzir o silêncio do encontro real entre nós dois? Dificílimo contar. Olhei pra você fixamente por instantes. Tais momentos são meu segredo. Houve o que se chama de comunhão perfeita. Eu chamo isto de estado agudo de felicidade."
(Clarice Lispector)
Vou começar minha reflexão com esse fragmento mais que sublime, na verdade é o encontro da autora com seu público na forma da comunhão dá dor e da ânsia de ser amada numa só alma. No fundo, porém, seria uma descrição do amor inatingível, aquele que apenas se senti e espera que o leve ao verdadeiro estado do Éden. Eu já tinha mencionado de uma maneira superficial o que eu penso sobre o amor. Aquele amor que é uma dádiva, renúncia de si mesmo na aceitação do outro. Amar o próximo como a si mesmo e a Deus acima de outras coisas. Embora também acreditasse que quando um homem ou uma mulher, ou dois homens, ou duas mulheres se encontram num amor verdadeiro, a união sempre é renovada, pouco importa as brigas e os desentendimentos: duas pessoas nunca são permanentemente iguais e isso pode criar no mesmo par novos amores. Mas infelizmente eu percebi que esse amor está em falta hoje no mundo. E este será meu último texto sobre esse sentimento, porque a partir de agora eu me furtarei de falar sobre esse estado, apenas farei algumas constatações, pois estou vivendo no equilíbrio infecundo do qual estou tentando me libertar.
Há temos o ser humano não sabe mais o que é o amor. Prefere se recolher no seu mundo do alheio.Prefere achar que as pessoas o devem algo, jamais o contrário.Não se importa se o menino passa fome ou corre descalços, se a mãe chora a morte do seu filho, se seus irmãos morrem todos os dias vítimas de bala perdida.Preferimos nos fechar numa redoma de vidro, pendurar uma plaquinha ”faminto de felicidade” e esperar que façam por nós, e quando isso não acontece, é sempre culpa do outro.O outro, sempre ele. O paradigma ideal para mim seria a calma no seio da paixão, e indubitavelmente eu sei que é um ideal humano e posso garantir que ele existe. Infelizmente o que há em abundância é o interesse de cada um. Não temos mais os corações preparados para doação que é o sinônimo de amor. Não sabemos mais que amar é saber que a sua melhor parte está no outro, e quando você faz o outro feliz você estará se fazendo mais alegre, pois somos integrantes de um todo. Que quando se planta a semente no coração da sua metade temos que regá-la com companheirismo, dedicação, dia após dia, para que ela cresça,finque raízes e que jamais perca a força. Agora o que rege nossas vidas são os egos camuflados de orgulho. Arrancaram nossos corações e no lugar dele temos apenas pedras embrulhadas em espinhos.
Eu estou sendo generalista?Pessimista?Radical?Eu não posso fazer nada. Eu que pague o preço que é sempre alto, estou habituado. Muitos podem não gostar de mim. Realmente não vou negar que não gosto de mim mesmo. Embora de vez em quando, me admire. Sou um tímido ousado e é assim que tenho vivido o que me traz contratempos. Se a felicidade existe, eu só sou feliz enquanto me queimo e quando a pessoa se queima ela não é feliz. A própria felicidade é dolorosa. Mas sigo cambaleando acreditando que meu rebento se esvazie logo e possa sorrir novamente do milagre da compaixão, da solidariedade que é a inteligência mais bonita e da esperança que um dia se acaba. Até lá, irei caminhando até onde minhas pernas agüentam e quando tudo estiver terminado partirei para o repouso eterno. Deixar o mundo não me faz mais alegre, mas a morte é um eterno repouso. E tenho muita vontade de repousar eternamente. E muita curiosidade. Espero que não doa. Gostaria de morrer em nome de uma coisa boa. Morrer deliberadamente. Fazer da minha morte a justificativa para minha vida. Mas não creio que mereça tanto.
(Johnnie)
domingo, 6 de setembro de 2009
Amor de São Francisco,será?
Como começar meu primeiro texto? Bem, acho que da melhor forma possível, que é apresentando o objetivo desse blog. Mas pensando bem qual seria? Acho que seria apenas externar o sofrimento de dois caras que ainda sonham com o amor de São Francisco. Ah, vocês nunca ouviram falar? Resumidamente seria um amor incondicional, um amor que chega à própria renúncia de si para a felicidade do outro, que repousa no seio da paixão com conforto e segurança. É meus caros leitores, ele ainda existe? Considerando, ainda por cima, o nosso mundo gay que vive da superficialidade? Eu sempre penso que quem se nutre desse sentimento não tem alma, muito menos coração, estarei errado? Todas essas perguntas e outras serão respondidas ao longo dos nossos desabafos (pretensão nossa querer que nossos textos tenham alguma qualidade literária), mas de qualquer forma, nosso objetivo é o compartilhamento de nossas idéias, angústias e medos, que todos os gays sentem.
A princípio, eu resolvi não falar sobre o mundo gay, mas sobre o mundo em que nos colhe. Lembro-me que, quando menino, meus assombros eram: qual era a verdade de cada pessoa, daquelas que me rodeavam numa casa geralmente alegre? É... eu descobrira que nem sempre diziam o que pensavam: e os outros? Perplexidades adultas: por que nós perdemos tanto tempo? Por que tantos encontros de amigos, amorosos e mesmo profissionais, começam com entusiasmo e de repente - ou lenta e insidiosamente - transformam-se em objetos de indiferença, irritação ou até mesmo crueldade? Ninguém se casa, tem filhos, assume um trabalho querendo que saia tudo errado, querendo falhar ou ser massacrado. Quantas vezes, porém, depois de algum tempo, trilhamos uma estrada de desencanto e rancor?
No mais trivial comentário, por que no lugar de prestar atenção ao outro, a gente prefere rotular, discriminando, marcando a ferro e fogo o flanco alheio com um rótulo invisível e ao mesmo tempo evidente? “Burro”, “arrogante”, ”falso”, “feio”, ”gordo”, ”preguiçoso”, ”mentiroso”, “omisso”, “desleal”, “vulgar”. Muitas vezes humilhamos logo de saída, demonstramos nossos preconceitos sem nos envergonharmos deles, pois nem nos damos conta. Parece que não convivemos com pessoas, convivemos com imagens construídas pela nossa falta de generosidade.
Pergunto a um amigo pelo seu namorado e ele me responde: ”Aquele? Cada vez mais gordo!” Mas talvez eu quisesse saber se ele estava empregado, se estava contente, se o fazia feliz. E a nossa amiga em comum? E ele me responde: ”Ah, essa? Irreconhecível, deve ter feito a milésima plástica na cara, mas os peitos estão um horror de caídos!” Não me disse se a pessoa de que falávamos se recuperava de uma perda, se estava deprimida, se recuperava-se de um trauma, se parecia serena ou aflita. Parece que invariavelmente acordamos com raiva de tudo e de todos. ”Sujeito metido e besta”, “professor ultrapassado”, ”aluno medíocre”, “cantor desafinado”, “empresário falido”.
Não vemos pessoas ao nosso redor, vemos rótulos. Difícil assim sentir-se acompanhado; difícil amar e ser estimado. Vivemos como se estivéssemos isolados, com o olhar rápido e superficial, o julgamento à mão armada: “um idiota”, “uma dondoca”, “um fracassado”, “uma bicha feminina”, “um viado safado”. Quem era, como se chamava, que idade tinha, se teve filhos, amigos, sucessos, fracassos, de que morreu, como viveu? É esse tipo de coisa que eu quero saber quando leio notícias do tipo: “Aposentado morre de infarto no meio da rua”, “Idosa atropelada na avenida" , “Mulher assaltada no caixa eletrônico”. Não admira que a gente sinta medo, solidão, raiva, nem sabemos do quê ou de quem. Atacamos antes que nos ataquem, o outro é sempre uma ameaça, não uma possibilidade de afeto ou alegria. Será todo homem uma ilha?
(Johnnie)
terça-feira, 1 de setembro de 2009
Sentir-se amado...
Seu marido diz que te ama, então assunto encerrado.
Você sabe que é amado porque lhe disseram isso, as três "palavrinhas mágicas". Mas saber-se amado é uma coisa, sentir-se amado é outra, uma diferença de milhas, um espaço enorme para a angústia instalar-se.
A demonstração de amor requer mais do que beijos, sexo e verbalização, apesar de não sonharmos com outra coisa: se a pessoa beija, transa e diz que me ama, tenha a santa paciência ! vou querer que ele faça pacto de sangue também?por favor...
Pactos. Acho que é isso. Não de sangue nem de nada que se possa ver e tocar. É um pacto silencioso que tem a força de manter as coisas enraizadas, um pacto de eternidade, mesmo que o destino um dia venha a dividir o caminho dos dois. Mas esse pacto também vem de caráter, de doação e de vontade de aperfeiçoar aquela pessoa a sua vida.
Sentir que é amado, é sentir que a pessoa tem interesse real na sua vida, que zela pela sua felicidade, que se preocupa quando as coisas não estão dando certo, que sugere caminhos para melhorar a vida de ambos e a do próprio casal, que coloca-se a postos para ouvir suas dúvidas e que dá uma sacudida em você caso você esteja delirando. "Não seja tão severo consigo mesmo! relaxe um pouco. Vou te trazer um cálice de vinho".
Sentir-se amado é ver que a pessoa lembra de coisas que você contou dois anos atrás, tentar reconciliar você com seu pai, ou alguém amado que esteja longe.É ver como ela fica triste quando você está triste ou longe, como sorri quando te reecontra depois de uma semana de trabalho e cotidiano."Lembra que quando eu passei por isso você disse que eu estava dramatizando? Então, chegou sua vez de simplificar as coisas. Vem cá, me da um abração"
Sentem-se amados aqueles que perdoam um ao outro e que não transformam a mágoa em munição na hora da discussão. Sente-se amado aquele que se sente aceito, que se sente bem-vindo, que se sente inteiro e liberto.
Eu te amo não diz tudo, mas pode ser meio caminho andado!Pense nisso antes de falar!