terça-feira, 8 de setembro de 2009

"É tão difícil falar e dizer coisas que não podem ser ditas. É tão silencioso. Como traduzir o silêncio do encontro real entre nós dois? Dificílimo contar. Olhei pra você fixamente por instantes. Tais momentos são meu segredo. Houve o que se chama de comunhão perfeita. Eu chamo isto de estado agudo de felicidade."

(Clarice Lispector)



Vou começar minha reflexão com esse fragmento mais que sublime, na verdade é o encontro da autora com seu público na forma da comunhão dá dor e da ânsia de ser amada numa só alma. No fundo, porém, seria uma descrição do amor inatingível, aquele que apenas se senti e espera que o leve ao verdadeiro estado do Éden. Eu já tinha mencionado de uma maneira superficial o que eu penso sobre o amor. Aquele amor que é uma dádiva, renúncia de si mesmo na aceitação do outro. Amar o próximo como a si mesmo e a Deus acima de outras coisas. Embora também acreditasse que quando um homem ou uma mulher, ou dois homens, ou duas mulheres se encontram num amor verdadeiro, a união sempre é renovada, pouco importa as brigas e os desentendimentos: duas pessoas nunca são permanentemente iguais e isso pode criar no mesmo par novos amores. Mas infelizmente eu percebi que esse amor está em falta hoje no mundo. E este será meu último texto sobre esse sentimento, porque a partir de agora eu me furtarei de falar sobre esse estado, apenas farei algumas constatações, pois estou vivendo no equilíbrio infecundo do qual estou tentando me libertar.

Há temos o ser humano não sabe mais o que é o amor. Prefere se recolher no seu mundo do alheio.Prefere achar que as pessoas o devem algo, jamais o contrário.Não se importa se o menino passa fome ou corre descalços, se a mãe chora a morte do seu filho, se seus irmãos morrem todos os dias vítimas de bala perdida.Preferimos nos fechar numa redoma de vidro, pendurar uma plaquinha ”faminto de felicidade” e esperar que façam por nós, e quando isso não acontece, é sempre culpa do outro.O outro, sempre ele. O paradigma ideal para mim seria a calma no seio da paixão, e indubitavelmente eu sei que é um ideal humano e posso garantir que ele existe. Infelizmente o que há em abundância é o interesse de cada um. Não temos mais os corações preparados para doação que é o sinônimo de amor. Não sabemos mais que amar é saber que a sua melhor parte está no outro, e quando você faz o outro feliz você estará se fazendo mais alegre, pois somos integrantes de um todo. Que quando se planta a semente no coração da sua metade temos que regá-la com companheirismo, dedicação, dia após dia, para que ela cresça,finque raízes e que jamais perca a força. Agora o que rege nossas vidas são os egos camuflados de orgulho. Arrancaram nossos corações e no lugar dele temos apenas pedras embrulhadas em espinhos.

Eu estou sendo generalista?Pessimista?Radical?Eu não posso fazer nada. Eu que pague o preço que é sempre alto, estou habituado. Muitos podem não gostar de mim. Realmente não vou negar que não gosto de mim mesmo. Embora de vez em quando, me admire. Sou um tímido ousado e é assim que tenho vivido o que me traz contratempos. Se a felicidade existe, eu só sou feliz enquanto me queimo e quando a pessoa se queima ela não é feliz. A própria felicidade é dolorosa. Mas sigo cambaleando acreditando que meu rebento se esvazie logo e possa sorrir novamente do milagre da compaixão, da solidariedade que é a inteligência mais bonita e da esperança que um dia se acaba. Até lá, irei caminhando até onde minhas pernas agüentam e quando tudo estiver terminado partirei para o repouso eterno. Deixar o mundo não me faz mais alegre, mas a morte é um eterno repouso. E tenho muita vontade de repousar eternamente. E muita curiosidade. Espero que não doa. Gostaria de morrer em nome de uma coisa boa. Morrer deliberadamente. Fazer da minha morte a justificativa para minha vida. Mas não creio que mereça tanto.

(Johnnie)

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